Setembro é diferente, traz consigo um vento forte e quente sacudindo as roupas no varal e também a alma. Com um suave aroma das flores que brotam diante dos nossos olhos, mostrando a vida em eterno movimento.
Ontem me lembrei de quando minha avó partiu. Faz quase 6 meses durante uma pandemia, não tivemos uma despedida, ela já estava inconsciente, somente apertei sua mão e dizia o quanto lhe amava, tinha esperanças que ela voltaria e comemorarmos sua vida e não voltou mais. No dia seguinte, eu tinha que fazer as coisas, trabalhar e cuidar da minha filha e explicar que a bisa virou anjinho.
Semanas depois, eu ainda chorava, me trancava no banheiro e sentava no chão para ninguém ver mas ao sair do banheiro a cara denunciava, parei num cruzamento para dar a preferência e fiquei por alguns segundos observando ao meu redor. A banca de jornal estava aberta, algumas pessoas conversavam na rua, o cachorro latia e as árvores balançavam como de costume. O mundo não tinha parado. Eu que ainda estava parada no mesmo lugar.
Fui pega de surpresa pela dor que não conseguia pisar no acelerador. Ainda não tinha chorado, mas ali sozinha dentro do carro, deixei todas as lágrimas descerem e senti profundamente a dor da perda da minha avó e o vazio que ela deixara na minha vida. Os carros começaram a buzinar e não tinha outro jeito a não ser andar.
O mundo não estava nem aí para a minha dor. Eu que catasse meus cacos e colasse tudo para respirar e seguir em frente.
Foi a primeira vez que perdi alguém que eu amava tanto. E fiquei tentando me lembrar do que conversamos antes dela ser internada. Mas nada vinha a minha cabeça.
Geralmente são esses momentos marcantes que nos fazem ter uma outra percepção da vida e das coisas. Já havia passado centenas de vezes pelo mesmo cruzamento, mas nunca observado o entorno. Sempre correndo, entrando e saindo nas ruas, com o foco no destino e sem aproveitar a paisagem. Só que a vida acontece agora bem diante dos nossos olhos.
E por medo, por dúvida, por insegurança deixamos nossos sonhos para depois. Com medo de trocar o certo pelo sonho. Com medo de viver porque é ousadia demais querer ser feliz. Então a gente se contenta e segue lavando louça com a barriga encostada na pia molhando a beira da blusa. E reclamando que quer um emprego melhor, uma casa melhor, uma viagem para Orlando, mas não faz nada, segue o baile da vida reclamando do chefe.
Nós, humanos, estamos sempre buscando algo grandioso que alimente o nosso corpo e a nossa alma e deixamos de perceber que a jornada já é o grande acontecimento. A estrada não é única e você não está preso nela. Existem mil caminhos e "mil maneiras de preparar Neston".
Então, não se conforme com aquilo que te dão. As pessoas só nos dão aquilo que elas tem dentro delas. Se você quer mais, busque mais. Um novo emprego, uma nova vida, um novo lugar.
Bons ventos estão por vir, está na sua hora de ventar.
"Boa passagem, meu bem. Não do tempo, mas de ti na vida, caminho só de ida".
Beijo no ♥
Bianca

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