
Quando uma história de traição vem à tona, é muito comum que se considere a amante a vilã, pivô de um relacionamento abalado. Mesmo que seja solteira, ela é quem acaba levando a culpa pela traição e não o homem que traiu. Isso é fruto de uma crença machista de que a mulher deve suportar e manter a sagrada família, ao mesmo tempo em que mitos a colocam no papel da sedutora que traz o pecado. Assim fica fácil tirar a responsabilidade do homem, culpar a 'mulher tentadora' e perdoar o marido infiel.
Os casos de amantes famosas tendem a repercutir de maneira mais agressiva na sociedade do que casos de anônimas. Elas representam uma ameaça para todas as mulheres. A simples possibilidade da existência de uma 'outra' faz com que as mulheres de maneira geral se sintam ameaçadas. Se isso aconteceu com a Grazi, pode acontecer comigo. É como se essas amantes fossem sempre fantasmas ameaçando o casamento alheio.
Mas isso não quer dizer que as 'destruidoras de lares' desconhecidas não sofram o julgamento. E isso também tem a ver com o fato de que a sexualidade feminina ainda é muito controlada e o prazer da mulher fora do casamento, condenado. Segundo a psicóloga Ana Maria Zampieri, isso acontece porque "a mulher tem o poder de gerar filhos, então, assumir o prazer feminino em nossa cultura, coloca em risco a visão de que o homem só deve colocar seus recursos no próprio filho.
Se a figura da outra sempre existiu, historicamente, no entanto, a forma como a traição masculina foi vista mudou bastante.. Nos séculos 18, por exemplo, com a busca por ouro e as guerras, havia uma mobilidade muito grande, então era comum que os homens tivessem muitas parceiras, uma em cada lugar. Já no século 19, a amante era vista como um mal necessário à manutenção do casamento, já que sem os métodos contraceptivos as mulheres viviam grávidas. O que era valorizado não era a fidelidade, mas o casamento em si...
Culpar a amante pela traição é uma forma de terceirizar os problemas do relacionamento. Atribuir à outra mulher a problematização da história poupa a todos do inconveniente do casamento fragilizado e do caráter duvidoso do parceiro. Basta acabar com a amante que tudo voltaria ao normal. É nessa visão ingênua dos relacionamentos que as traições começam e supostamente são interrompidas, até que um novo ciclo reinicie.
Com a popularização do feminismo nas redes sociais, o cenário tem mudado, abrindo espaço para um olhar da amante como sendo também vítima da enganação do homem traidor.
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